sábado, 27 de março de 2010

Padre Alberto Teixeira Ferro e as obras da igreja



O padre Alberto Teixeira Ferro era uma das figuras mais conhecida do Grajaú nos anos 50 e 60. Havia assumido como pároco da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em janeiro de 1944, menos de dois anos após a inauguração da igreja. Teria então cerca de 35 anos. Ficou lá até morrer na década de 70.


A igreja do Grajaú em 1944

O bairro era pequeno e aquele era seu único templo. Naquela época não se ouvia falar de cultos evangélicos. O catolicismo não tinha concorrência. Ou se era católico ou se era ateu comunista. Só os ritos africanos assinalavam sua presença volta e meia nas esquinas das ruas.

Minha família chegou ao Grajaú em 1952 e logo nos tornamos freqüentadores da igreja. Entretanto, só tivemos contato maior com o padre Alberto a partir do final de 1957 quando minha mãe precisando trabalhar e por não encontrar um internato onde colocar meu irmão, então com dez anos, conseguiu que o padre Alberto o tomasse aos seus cuidados. Para quem já vinha de um internato em São Paulo e tinha os irmãos também em internatos até que não era a pior coisa ficar na igreja, a poucos quarteirões de onde estava a mãe. Iria estudar em uma escola pública em regime de externato, a Duque de Caxias, que ficava também pertinho. Em contrapartida teria que ajudar às missas como coroinha e fazer o papel de office-boy da dona Augusta, a governanta da igreja.

Nos fins de semana e nas férias eu acabava indo lá para ajudar nas missas, também como coroinha, e depois passava lá algumas horas com meu irmão, embora a dona Augusta não gostasse muito. Foi dessa forma que nos tornamos testemunhas de muitos dos eventos que ali se sucederam naqueles anos e que acabaram por ser os anos de ouro da igreja do Grajaú.

As obras do padre Alberto

Os “cinqüenta anos em cinco” do presidente JK davam um grande impulso à economia. Os resultados dessa política acabaram beneficiando também os moradores do bairro. Padre Alberto acompanhava o termômetro da economia pelo resultado semanal das doações dos fiéis. Não tardou em perceber que estava na hora de lançar seus projetos. Tudo ou quase tudo construído naquela igreja foi realizado naquela época.

Seria preciso ocupar muitas páginas para falar sobre esta que foi a maior de todas as suas missões enquanto pastor dos grajauenses: pedir dinheiro para as obras da sua igreja. Era campanha atrás de campanha. Meu irmão e eu fomos incontáveis vezes distribuir envelopes nas filas do lotação e do ônibus. Ainda por cima tínhamos de ir vestidos com a batina vermelha e a sobrepeliz branca para chamar mais atenção. Se algumas vezes os bueiros da praça ficaram entupidos, foi por culpa do excesso de envelopes que o padre Alberto nos dava.

Insistente e persistente, o fato é que suas estratégias funcionavam. Nunca faltou dinheiro para as suas obras nem para sustentar os gastos da dona Augusta com a manutenção da casa paroquial. Muitos criticavam aquele peditório exagerado, mas outros eram atraídos pelas idéias e pela promessa de recompensar os doadores com a inscrição de seus nomes junto às obras que patrocinassem.

Para a realização do seu mais caro projeto, o de converter o aspecto interno da igreja em algo comparável à Capela Sistina, contratou o italiano Antonio Maria Nardi. Lembro-me que o trabalho levou bastante tempo. Muitas pessoas acharam ter havido certo excesso de pintura pois não ficou um pedaço de parede sem o toque do seu pincel. Ninguém sabia se o excesso era responsabilidade do artista ou do encomendante. Os bochichos maiores ocorreram quando os paroquianos se deram conta de que no painel à esquerda do altar a figura do padre se fazia presente. Não em primeiro plano, nem demasiado evidente, mas perfeitamente visível e identificável. Mais que perfeitamente, aliás: foi estrategicamente colocado atrás de um grupo de figurantes de modo a que não se lhe visse a protuberância ventral, culpa dos mimos culinários que dona Augusta mandava preparar. Por último, ele ainda restaurou todas as imagens da igreja. Nesta etapa eu devia estar de férias, pois me lembro de que passava horas seguidas, com meu irmão, acompanhando aquele delicado trabalho. Nardi era uma pessoa extremamente simples, sem nenhuma afetação, e adorava conversar enquanto fazia o seu trabalho. Nessa altura já falava muito bem o português.

Outra obra importante foi o altar-mor, todo em mármore de Carrara, o grande medalhão em prata portuguesa para ornar o quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a porta do sacrário, folheada a ouro.

(continua... )


[Próxima postagem: 03/04/2010]

sábado, 20 de março de 2010

Um velho álbum de fotos (final)

As fotos 5, 6, 7 e 9 reproduzem os belos painéis pintados no final dos anos 50 pelo pintor italiano Antonio Maria Nardi

(clique sobre as imagens para ampliar)


Foto 5
Vista do altar-mór e dos painéis frontais.



Foto 6
Painéis dos altares laterais (lado esquerdo de quem entra)
(notar o presépio montado no local onde fica a pia batismal)



Foto 7
Paineís do lado direito. Ao fundo a entrada para a secretaria.



Foto 8
Vista do altar-mór com destaque para a grande moldura da imagem
de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.


Foto 9
Detalhe do painel sobre o altar-mor.


Sugestão de sites para saber mais sobre a biografia e obra de Antonio Maria Nardi:

[Próxima postagem dia 27/03/2010]

quinta-feira, 18 de março de 2010

Um velho álbum de fotos (continuação)

(clique nas imagens para ampliar)



Foto 3
O bairro do Grajaú em 1964, ainda estritamente residencial - 
um bairro "jardim". No centro a rua Araxá (?).
A igreja quase escondida entre os prédios da praça e da Eng. Richard.
Ao fundo, o Bico do Papagaio era o "Pão de Açúcar do Grajaú".




Foto 4
A igreja, de 1931, dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Localizada na Praça Edmundo Rêgo, centro vital do bairro.




Foto 10
 
Imagem da igreja, em primeiro plano, tendo ao fundo o Bico do Papagaio.



(continua)