terça-feira, 6 de abril de 2010

Padre Alberto Teixeira Ferro e as obras da igreja (Final)

Dona Augusta


Dona Augusta era uma senhora gorda e bonachona, certamente bem mais velha do que o padre Alberto. Ao contrário do que muitos dos freqüentadores da igreja pensavam, não era sua mãe. Nem mesmo tinham qualquer parentesco.

Ela contava que seus pais haviam sido fazendeiros no Vale do Paraíba, produtores de café e proprietários de escravos. Numa das crises da lavoura perderam tudo, mudaram para a cidade e tiveram que adotar hábitos de uma vida mais simples. Mais tarde D. Augusta foi recomendada para ser a governanta do padre Alberto, na igreja do Grajaú. Não constava que houvesse sido casada ou que tivesse filhos. Sabíamos que tinha apenas uma irmã e um sobrinho que moravam em Vila Isabel. Vestia-se com simplicidade franciscana: usava invariavelmente um grande camisolão de tecido barato e calçava sandálias.

Dos velhos tempos da fazenda paterna dona Augusta não perdera o costume da grande cozinha e de preparar saborosos quitutes em quantidades muito acima do que era necessário. Vez por outra o padre reclamava dos seus excessos e ela punha-se a choramingar pelos cantos como uma criança. Mas nunca alterou seus hábitos. Os gatos refastelavam-se com os sobejos.

Além de chefiar uma equipe de quatro pessoas que respondiam pelos serviços internos da igreja, tinha a missão de ministrar aulas de catecismo para as crianças do bairro e de prepará-las para a primeira comunhão. Fazia-o com prazer, embora o excesso de peso lhe afetasse o fôlego. Da metade para o fim da classe já falava com visível esforço.

Tinha também habilidades artísticas que se manifestavam principalmente na época do Natal. Era quando se transformava na incansável artista e organizadora da montagem do grande presépio que tanto chamava a atenção das crianças. Durante vários anos foi montado no pavilhão externo e ocupava toda a extensão do palco. O cenário deveria medir mais de trinta metros quadrados. Meu irmão e eu participávamos da montagem, sempre sob sua supervisão. Não lhe escapava um detalhe. Ficava realmente um trabalho bonito e era muito elogiado. Nos últimos anos, passou a montar o presépio em escala mais reduzida, dentro da igreja. É dessa fase o presépio que aparece numa das fotos que o padre Alberto mandou fazer em 1965 para o álbum do 4º centenário da cidade do Rio de Janeiro.

Consta que faleceu ainda nos anos 60.